sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

WEB NA ESCOLA, ESCOLA NA WEB

Por haver trabalhado em escolas públicas da rede estadual e municipal de ensino da educação básica por 37 anos nas periferias metropolitanas, onde sobrevivem  comunidades altamente vulneráveis, e também por ter vivido uma época em que pessoas usavam a correspondência com outras pessoas como passa-tempo bem como ter percebido influência que esta atividade teve na formação diferenciada destas pessoas, concluí que em nosso tempo o  uso do blog poderia ser apropriado pelas escolas e usado como ferramenta de formação dos nossos educandos como recurso didático e  neste propósito imagino uma série de atividades pedagógicas que poderiam ser auxiliadas ou desenvolvidas integralmente com o uso dos blogs.

Adiante detalho as preliminares de um projeto neste sentido não como uma coisa acabada mais como uma proposta em processo e que, certamente, com a contribuição dos leitores poderemos enriquecê-lo muito mais e nos aculturarmos desta ferramenta.

Não há educação sem amor. [...] Não há educação
imposta, como não há amor imposto. Quem não ama
não compreende o próximo, não o respeita."
Paulo Freire

1. Motivação e justificativa

Há um envolvimento cada vez mais crescente da humanidade no mundo virtual, e a democratização desse nas camadas mais carentes da sociedade. Os jovens demonstram paixão pela web, ainda que de um modo mais vultoso para os sites de bate-papo. Além disso, é percebido um volume cada vez mais crescente desse público para os canais de buscas e pesquisas, assim como também para portais que de entretenimento os quais se mostram cada vez mais atrativos.

Na escola púbica, salvo algumas honrosas intervenções pontuais, as aulas continuam sendo dadas nos moldes de séculos anteriores ao tempo em que vivemos, tendo como recurso didático unicamente o quadro verde (o qual foi um grande avanço ao anteriormente negro) e o velho conhecido giz de todos nós, um dos grandes responsáveis pela condição insalubre da profissão do professor.

É bem verdade que se presenciam várias incursões do Governo Federal na tentativa de melhora dessa realidade, como é o caso da distribuição de livros de várias disciplinas do ensino médio (até bem pouco tempo só os alunos da educação infantil e do ensino fundamental tinham acesso a essa tão valiosa ferramenta do processo-aprendizagem), instalação de laboratórios de Ciências e Matemática (multidisciplinares) e provimento de laboratórios de informática.

Apesar dessas iniciativas, as aulas não evoluíram eficientemente por conta inicialmente da deficiência na relação existente entre o número de computadores da escola disponibilizados nos laboratórios e o número de alunos frequentes no turno. Pode-se observar também uma carência de recursos humanos nos laboratórios durante a integralidade do horário de funcionamento das escolas (isso é observado tanto nos laboratórios de informática como no de Ciências e Matemática). Além disso, percebe-se também grande despreparo dos professores de um modo geral para essas ferramentas, apesar de existirem profissionais aptos ou que pelo menos se disponibilizam a capacitar-se para esta tarefa nos parcos cursos com esta destinação. Em muitos casos, até mesmo aqueles que são destacados para monitorarem os laboratórios enfrentam tal situação sem qualquer inclinação para a atividade.

Há a necessidade de que as aulas sejam modernizadas, tornando-as atrativas (interessantes), disponíveis e acessíveis para o aluno. Ao mesmo tempo, elas devem ser eficazes e práticas. Dessa forma, a web afigura-se como uma potente ferramenta geradora de um banco de conhecimento para o professor e para a humanidade, que passa a vislumbrá-la como um excepcional recurso didático-pedagógico no processo de ensino-aprendizagem.

Algumas escolas já se manifestam num uso um pouco mais criativo da internet como é o caso da Escola de Ensino Fundamental e Médio Anísio Teixeira1 que nos apresenta na III Feira Estadual de Ciência e Cultura acontecida de 30 de Novembro a 02 de Dezembro de 2009 no Hotel Praia Centro em Fortaleza – Ceará o Projeto2 “Uso do Blog na Interação Escola-Comunidade”, apresentado pelos alunos3 Theallys Brenno e Viviane de Araújo e orientado pelo professor Tiago Teixeira, com a co-orientação da Professora Helena Katiúscia.

Outro exemplo de uso inteligente da internet na educação é apresentado pela Escola Profissional de Russas que consiste no Projeto4 “Jovens Profissionais na Linha Digital” que consiste na produção de um blog por alunos com o propósito de divulgar o projeto e eventos realizados na escola como também a produção de uma reportagem sobre o uso das diferentes mídias usadas na escola que será divulgado no blog e material impresso com objetivo conhecer as possibilidades de uso das TIC na educação, trocar experiências e experimentar seu uso tendo como público alvo a Comunidade intra e extra escolar.

Existe também o trabalho da escola de Ensino médio Escola Senador Fernades Távora em Fortaleza – Ceará, o projeto “JORNAL VIRTUAL SFT” apresentado na III Feira Estadual de Ciência e Cultura o qual “foi criado com a intenção de incentivar alunos, pais, comunidade, funcionários e professores da Escola Senador Fernades Távora a participarem do processo de informatização da escola. Esperamos que ele seja uma ferramenta de comunicação e aprendizagem eficaz” como diz o Prof. do LEI Evaldo Fernandes da Silva.5

Encontramos ainda o blog da Escola Municipal CAIC Mariano Costa6 da Rede Pública Muncipal de Joinville localizada no Bairro Adhemar Garcia desta codade em Santa Catarina que apresenta uma formatação informativa e formativa.

Sobre blogs a professora Gládis Leal dos Santos7 nos define: Os blogs são uma excelente ferramenta educacional que permite a professores e alunos publicarem na Internet textos, narrativas, registros de aprendizado, notícias, poemas, análise de obras literárias, opinião sobre atualidades, relatórios de visitas e excursões de estudos, fotos, desenhos, vídeos e o que mais a imaginação permitir.

Dito isto urge a necessidade de se estudar as estratégias e os efeitos do uso dos blogs como recurso didático no ensino de Ciências e Matemática.



2. OBJETIVOS

2.1.OBJETIVO GERAL

Estudar criticamente o uso do blog como recurso didático no processo ensino-aprendizagem na sala de aula de curso presencial regular de educação básica bem como seu uso enquanto ferramenta de construção do conhecimento para as atividades extra-classe nesta modalidade e nível de ensino.


2.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS

2.2.1- Estudar o uso de blogs como ferramenta didático-pedagógica no processo de ensino-aprendizagem presencial nas escolas da rede pública de ensino da educação básica.

2.2.2- Estudar o uso dos blogs na perspectiva de uma produção construcionista social, de modo contínuo, de um banco de conhecimento na educação básica do ensino público disponibilizado para alunos e professores da rede pública de ensino da educação básica e para o mundo.

2.2.3- Analisar o uso de blogs, na sala-de-aula, como recurso didático-pedagógico na educação básica da rede pública de ensino presencial.



3. EMBASAMENTO TEÓRICO

O mundo está muito rápido em suas mutações. O meio ambiente está se transformando muito rápido, doenças novas que surgem e velhas que são recicladas, a economia está numa efervescência, as tecnologias ficam superadas rapidamente e o conhecimento de avoluma espantosamente.

Por conta deste contexto que o volume de inflrmações no mundo dentro e fora da escola os quais surgem de maneira fragmentada e desorganizada oriundas principalmente dos meios de comunicação provocam interesses diversificados e que muitas vezes transcendem as disciplinas curriculares. Muitas escolas, em busca de suprir esta carência, laçam mão dos projetos onde, de modo transversal e/ou interdisciplinar abordam várias temáticas que estão em evidência quer pela força midiática quer por força da legislação. Sobre esta situação Henadez11 se reporta:

“Nessa rede de relações em torno das mudanças na sociedade e na escola é que há de se inscrever o sentido dos projetos de trabalho, que aparecem assim como uma prática que encerra uma resposta pedagógica a algumas das mudanças que têm lugar:
a) nos saberes disciplinares em que hoje, diferentemente do que talvez sucedesse nos princípios do século, é difícil encontrar um campo de estudo que possa avançar de maneira fechada e compartimentada, sem contato e relação com outros conhecimentos que permitam definir e enfrentar novos problemas.
b) na sociedade, sobretudo pelas mudanças na representação de mundo que estão gerando as tecnologias de informação e a comunicação e reorganização do mundo do trabalho.
c) Na função da escola, que está deixando de ser uma instituição cuja função primeira era alfabetizar e preparar para o mundo do trabalho, para ser uma instituição em que cada etapa educacional tem valor por si mesma (entre outras razões, porque o futuro é incerto) e que deve responder às transformações que os alunos vivem e com as que se relacionam na vida diária.”(Henadez11 , p. 54)

Dentre as muitas idéias lançadas nas escolas tais como o uso do xadrez, produção de jornais e revistas, amigos correspondentes de cartas, uma está ganhando espaço que o uso da internet que cada dia fascinam mais os adolescentes e aos jovens e de um modo especial os blogs que passam a ser descobertos pelos alunos.

Para CAIROLI12 “A composição do diário virtual é dividida com os pares, e na maioria dos blogs há uma lista citando blogs de outros amigos passíveis de serem acessados, de modo que se forma uma rede interligada. Outra característica desta prática é que aquele que produz o blog costuma pedir aos visitantes de sua página que deixem comentários sobre aquilo que ele escreveu.”(CAIROLI12, p. 210) O que significa então uma grande rede ou teia se preferirmos de alunos interligados, se comunicando.

Na concepção de CAIROLI12 tem-se um difrencial neste novo meio de comunicação quano se compara com o que se usava anteriormente(cartas, diários, agendas, etc) é que “No caso dos blogs, surge um novo elemento que não havia nos diários e agendas tradicionais: o ciberespaço. Essa rede sem fronteiras determinadas é um espaço novo, constituído pela interconexão de computadores do mundo inteiro. A ligação entre humanos de todos os horizontes em um só tecido aberto e interativo produz uma situação totalmente inédita, na qual leitura e escrita mudam de papel (Lévy, 1999). (CAIROLI12, p. 210) Essacomunicação é mais democrática no sentido que se tem a liberade de escrever e a esperança, se assim quizermos, de ser lido pelo mundo todo.

Percebe-se, no entanto, que o número de professores familiarizados com as novas tecnologias não é muito favorável ao que estamos propondo no projeto como conclui-se inclusive da leitura do artigo de CARVALHO1 quando diz:

“Um problema que encontramos em nossas investigações diz respeito à dificuldade do professor em realizar mudanças na “sua didática” (Carvalho, 1999). O ensino baseado em pressupostos construtivistas exige novas práticas docentes e discentes não usuais na nossa cultura escolar. Introduz um novo ambiente de ensino e de aprendizagem, que apresenta dificuldades novas e insuspeitadas ao professor. Ele precisa sentir e tomar consciência desse novo contexto e do novo papel que deverá exercer em classe.”(CARVALHO1, p. 59)

Entende-se que a mudança de atitudes dos profissionais da educação na direção de adotar as novas tecnologias como recurso didático na prática de sua sala de aula deverá ser muito difícil. Talvez o caminha seja este de promover cursos de capacitação para os professores, oficinas do uso de blogs nas aulas e mostrando para eles as possibidades diversas de aplicação e com os resultados eles possam aderir ao projeto.

“Vejo, portanto, como uma das saídas usar da mesma estratégia da CARVALHO1 que consiste:

...Com essa diretriz organizamos cursos (de Física para o nível médio e de Conhecimento Físico para o fundamental), cujos objetivos gerais foram:
a) Favorecer a vivência de propostas inovadoras e a reflexão crítica explícita das atividades de sala de aula
b) Problematizar a influência no ensino das concepções de Ciências, de Educação e de Ensino de Ciências que os professores levam para a sala de aula
c) Ciências tendo em vista superar o distanciamento entre contribuições da pesquisa educacional e a sua adoção”(CARVALHO1, p. 59/60)

“É nesse sentido que o referente aparece não como algo interessante para aprender, nem como algo que faz e fará parte da vivência do aluno, mas como algo obrigatório no processo de ensino-aprendizagem, como algo que se deve saber, embora, na maioria das vezes, nem o aluno nem o professor vejam nele sentido para a vida. É por essa razão que se cristalizam práticas de perguntas e respostas, em que não importa muito o conhecimento efetivo do referente, mas sim a resposta já pronta (não construída por quem “ensina” e muito menos por quem “aprende”). É comum o aluno e até mesmo o professor não refletirem sobre o conhecimento já construído.”(Guimarães, 2000. p. 29)8.
“O que prevalece no discurso pedagógico é o intuito de validar a imagem do professor como “sujeito que sabe”. Não é privilegiado o que deveeria ser: o objeto do discurso, o conhecimento ou a construção deste. A estratégia intríseca do discurso pedagógico é culpabilizar quem não sabe (o aluno) por aquilo que o professor sabe. Não é considerado o saber do aluno, ou este é colocado no lugar de quem precisa “aprender”, isto é, no papel de tutelado. É, no discurso pedagógico, o “esmagamento” do outro.”(Guimarães, 2000. p. 30)8.

“Ainda não foi possível se criar , a partir de uma proposta de trabalho coletivo, mecanismos de participação popular que peermitam aos sujeitos sociais envolvidosna educação escolar a consução de um projeto pedagógico-político-cultural para a escola.”(Castro, 2000. p. 109)9.

“A educação, nesse contexto, ocupa ocupa lugar de destaque. O seu papel vai alémdeuma mera trnasmissão de informações e conhecimentos, mas um processo pedagógico na construção de uma consciência crítica. Somente assim, será permitido ao cidadão coletivo a identificação de interesses opostos ao seu processo de construção social e a formulação de estratégias de enfrentamento no seu cotidiano. Ora, é nesse processo de aprendizado que se dá o acúmulo de experiências, a partir das quais estarão ampliando-se e construindo e construindo-se novas formas de saber.”(Castro, 2000. p. 109)9.

“É necessário, portanto, que se tenha clareza de que a participação não é algo dado, ela construída coletivamente. As condições concretas à participação são frutos de um exercício permanente de democracia.http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/ Nessa perspectiva, a escola somente poderá estar preparando para a cidadania quando puder romper com a lógica hierarquizada e burocratizada que vem até então conduzindo as relações sociais que se reproduzem no seu interior. E, principalmente, quando se reconhecer enquanto um espaço de construção social, no qual sujeitos sociais diversos interagem na produção e escolarização de conhecimento e cultura.”(Castro, 2000. p. 110)9.



4. Metodologia e procedimentos

A princípio, será feito um estudo bibliográfico sobre o objeto de estudo, como também de artigos relativos na web.

Far-se-á levantamento estatístico por amostragem em escolas da educação básica da rede pública do Estado do Ceará, notadamente as que ministram o ensino médio, estratificando em profissionalizantes, ensino médio puro e exclusivo (as escolas que só oferecem o ensino médio) e as que trabalham tanto o ensino médio como o ensino fundamental. Será feito um questionamento relativo ao uso da web como recurso didático.

Formar-se-ão quatro grupos de vinte alunos voluntários, dois grupos de cada escola, escola A e escola B, a que chamaremos grupos de controle, os quais receberão aulas de cinco temas diferentes. Dos dois grupos de cada escola, um receberá aula convencional, e o outro receberá aula tendo o blog como ferramenta didática.

Os grupos que receberão as aulas tendo os blogs como recurso didático serão formados com alunos que possuam habilidades em informática a nível de usuário iniciante.

As aulas sempre serão precedidas de um pré-teste de dez questões objetivas de cinco opções. No final de cada aula, será efetuada uma avaliação que consistirá da mesma prova que foi aplicada no pré-teste. Uma semana após a última aula, ter-se-á um provão que consistirá das cinquenta questões aplicadas nas aulas.

Antes da ação da primeira aula, será construído um blog na web locado no portal da UFC ou num portal livre, como o Blogspot. Nesse blog, estarão as aulas a serem usadas com os grupos de controle.

As aulas utilizando o recurso da web só poderão ser ministradas depois que os alunos das aulas convencionais tiverem realizadas suas provas finais.

Deverá ser construída uma planilha no OpenOffice com a tabulação cronológica dos dados resultados das questões avaliativas com a análise absoluta e percentual da evolução do processo de ensino-aprendizagem de cada grupo de controle.

Uma planilha de resultados estratificados das escolas A e B será construída.

Em seguida será feita uma análise crítica dos resulltados que embasará as conclusões num paralelo com a fundamentação teórica.



5. REFERÊNCIA

1.CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. A pesquisa no ensino, sobre o ensino e sobre a reflexão dos professores sobre seus ensinos. Educ. Pesqui. [online]. 2002, vol.28, n.2, pp. 57-67. ISSN 1517-9702.

2.http://anisioteixeirace.blogspot.com/2009/11/iii-feira-estadual-de-ciencia-e-cultura.html em 02/12/2009/22:08

3.http://anisioteixeiraarquivo.blogspot.com/2009/11/projeto-conhecendo-nossa-comunidade.html em 02/12/2009/22:26

4.http://anisioteixeiraalunos.blogspot.com/2009/11/reuniao-e-reforco-na-equipe.html em 02/12/2009/22:19

5.http://profissionaisdigitais.blogspot.com/2009/07/projeto-jovens-profissionais-na-linha.html em 02/12/2009/22:46

6.http://jornalvirtualsft.blogspot.com/ em 02/12/2009/23:16

7.http://caicmariano.blogspot.com/ em 03//12/2009

8.GUIMARÃES, glaucia. TV e escola: discursos em confronto. São Paulo: Cortez, 2000.

9.CASTRO, Iêda de. Educação: olhares e saberes/Organização, Sofia Lerche Vieira, Kelma S. L. de Matos. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000

10.HERNÀNDEZ, Fernando. Os projetos de trabalho e a neesidade de transformar a escola. Revista Presença Pedagógica, V. 4, no. 20, março/abril, 1998.

11.CAIROLI, Priscilla and GAUER, Gabriel Chittó. A adolescência escrita em blogs. Estud. psicol. (Campinas), Jun 2009, vol.26, no.2, p.205-213. ISSN 0103-166X disponibilizado no sitio http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/ em 05/12/2009 as 01:35.



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