segunda-feira, 20 de junho de 2011

A miséria da lei



Recebi este e-mail o qual seu teor também encontra-se publicado no O POVOOONLINE
(18.06.2011| 15:00) A miséria da lei. Pela importância de seu teor, não poderia não repassar para os amigos leitores. Comentar, discutir tais observações faz parte do exercício da cidadania. Dá nojo ver antigos conhecidos anterirormente bastante combativos das causas sociais hoje vendidos por migalhas passageiras(carguinhos, empregos terceirizadosou até mesmo "dividindo" salários em gabinetes sem constar em folha de pagamento, etc). Suas militâncias hoje são de fazer inveja aos facistas de outrora.
Veja o e-mail em sua totalidade.
A miséria da lei

"A pobreza, o abandono de muitas escolas é uma vergonha imensurável"
18.06.2011| 15:00

Cabe conhecer o sistema de educação cearense antes de criticar a greve dos professores ou fazer a apologia da história de um fracasso no qual o Ceará é um dos líderes, conforme estatísticas oficiais. Vão prender os especialistas que apontam o real desastre da educação pública no País?

O pensamento não tem ego nem superego; não acha que, mas é da ordem do saber. O real é mais forte que a opinião, nutrida pela culpa e piedade. Coitados dos alunos! Vão ficar com fome! Pobres, vão perder o ano!

Jogar lama na cara dos professores, tentar humilhar, destruir psicologicamente os bombeiros em greve, atesta a reação de um poder político iletrado, habituado à prática de violência “legítima” em detrimento da vontade de mutação salarial, ética e social dos trabalhadores.

Não se percebe que o Brasil ainda não aderiu à cultura de salário, em consequência, não paga a quem trabalha? No Brasil, o assalariado não tem tempo para ganhar dinheiro, donde a farta economia de violência e negócios ambíguos: todos querem ser “empresários”.

No caso dos bombeiros, o retorno do recalcado, o grito uníssono da população detonou as reações irresponsáveis de políticos antiéticos, oportunistas, e, em sua maioria, desonestos. Há muito mais processos no Brasil contra a corrupção generalizada de políticos que greves de lumpen, cujo salário mínimo, resquício da escravidão, corresponde a mais de 70% dos trabalhadores com carteira assinada.

Dois anos como formador de executivos, em 40 municípios do Ceará, experiência de grande valia, deixam-me a vontade para evitar o discurso de escritório, mais atento aos filhos que estudam em escolas particulares que às grandezas e misérias correntes do ensino público. Senti na pele a violência simbólica de prefeitos, secretários; a censura explícita, as ameaças de que são vítimas executivos, formadores ou professores. A pobreza, o abandono de muitas escolas é uma vergonha imensurável. O número de prefeituras cujos mandatários foram condenados por corrupção, ou respondem a processos, fala por si.

Esquerdistas e liberais de ontem são os carrascos de hoje? Não é a primeira vez que se fala de fascismo de esquerda. Deve-se aceitar a fatalidade: toda minoria, ao se tornar maioria, adere ao despotismo e é tomada por uma amnésia que faz dela lacaio, menino de recado, ou nova categoria de bandido social?

Ao espancar professores, via polícia, vítima também de salários aviltantes e formação descartável, será que vereadores, representantes de uma oligarquia social, defendem algo que não seja eles e seu clã? Alguns políticos são donos de escolas, creches privadas etc., aí a formação é outra. O salário é outro.

Quando a lei é fora da lei, deve-se ainda obedecê-la? Qual a legitimidade de uma classe política que faz do País um clube de partilha de poderes e cargos públicos ancorados no dinheiro fácil e na democracia dos negócios?

A democracia à brasileira, lembra Platão: “Regra geral: toda palavra dirigida a um escravo deve ser uma ordem.”

O deus do superego, bem pensante, tão legalista, é de fato o inimigo da liberdade, ele a perverte e se torna tirânico sob sua inspiração. A deflação de leis leva à inexistência da lei, à miséria da lei.

Daniel Lins
dlins2007@yahoo.com.br
Filósofo

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